Quando penso, escrevo, quando sinto, falo, mas quando quando escrevo o que sinto...

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Caçada

Desperta hoje
Teus instintos mais primitivos
Desejos que correm
Correm pelos campos e bosques
Aguça agora
Os sentidos de teu corpo
Vê a sua frente
Tua morada verdejante
Sente sob suas patas
O solo morno que te sustenta
Ouve o chamado
Da floresta que te abriga
Sente o vento
Entre sua pelagem a soprar
Fareja no ar
De tão longe tua presa
Adrenalina contagia
O caçador nato se atiça
Corre pela planície
Alcança teu alvo num instante
Enche sua boca
O gosto de sangue e carne crua
Existe dentro de si
A face mais primal e selvagem
Acorda assim a fera
Que reside em seu peito

Uivado em 19/08

terça-feira, 30 de julho de 2013

Desperta

Vagueio por rústicos sítios
De beleza bruta
Caminhos escondidos
Abaixo do solo

Em direção a sua saída
Luz fraca indica o destino
Fogueiras queimam forte
Em padrões circulares distintos

Grandes campos floridos
Grandes campos sem flores
Grandes campos de trigo
Campos repletos de amores

Dança, inflama e agita
Alva serpente se move
Desperta do longo sono
Aquece teu leito

Verdeja o que era ferrugem
Se move o que havia parado
Festeja o que era alento
Cresce o que havia minguado

Grandes campos floridos
Grandes campos sem flores
Grandes campos de trigo
Campos repletos de amores


Composto em 30/07/2013

terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma questão de gosto

Eu gosto, sim eu gosto
Sempre que vejo um sorriso bobo
Mordida de labio envergonhada
Mesmo que me irrite
Suas esquivas
Seu leve suspiro compassado
Suas tranças, feitas
Ou ainda soltas ao vento
Correndo livre pelo campo
Sempre sorrindo, sempre
Seu sorriso convidativo
Um convite aberto ao entusiasmo
Lembrete de que algo na vida
É motivo e motiva a viver
Por isso não canso de dizer
Eu gosto sim, e como gosto de você

Composto em 16/07/2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Jardineiro, o paradoxo

Um canteiro
De solo morto
Adubado e arado
Bem cuidado
Semeado
Crescem ramos
Enrolados
Um jardineiro
Contente
Crescem flores
No seu canto
Rosas claras
Rosas vermelhas
Linda vista
Mar de espinhos
Entre os caules
A dor certeira
Fura a pele
Rasga e sangra
Floresce e espeta
Cada pétala
Ferida aberta
Plantando flores
Coleciono dores

Feito em 10/07/2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Gatuna

Era uma vez uma gata malhada
Preto, branco, e cinza listrado
Um mosaico de cor misturada
Com manchas espirais de tom azulado

Percorre distâncias inimagináveis
Seu rastro ela deixa por onde passa
Em pulos vorazes e saltos incontroláveis
Cor viva encarnada são as marcas de pata

De pelo eriçado, esfrega e arranha
Brinca maliciosamente, sem mal
Sem medo e cheia de manha

Marca suas presas, morde forte
Provoca, recua, também é provocada 
Esse mel de libido, te afaga consorte


Imaginado em 26/06/2013

domingo, 9 de junho de 2013

Percepção aguçada

Toda beleza é bela por natureza
A tua refuga e matiza em espírito
Irradia como o ardente fogo
Calor envolvente e aconchegante
Reflete e brilha como a obsidiana
Profunda, sutil, de pura inocência
E os ventos, ah os ventos que sopram
Espalham-se por ai seus aromas
Tons doces e almiscarados, cheiro do campo
Notas amadeiradas
Amável perfume transpirado
Oh formas tão harmônicas
Divinamente planejadas em segredo
Tom tão alvo, neve sobre solo
Entre os flocos os menires
Gracejos rochosos são suas sardas
Na sutileza de sua presença
Naturalmente, envolve com chama rubra
É ferrugem de outono, é calor de verão
É encanto de primavera, é companhia de inverno
É impulso, é viagem no tempo
Desloca e ignora o espaço, é presença
Sua natureza, desde sempre encantadora
Pois, a beleza por si só já bela
Em essência a priori incorruptível


Inspirado em 9/06/2013

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Cor e essência

Devora ti mesma, ó negra alma
Como um bruto despetala uma flor
Suga das entranhas profundas
A oscuridade no estado de catarse
Do negrume de seu sofrimento
Tira força, lasca o espinho
Penetra a pele, contorce a carne
Maquia sua dor com belos risos
Enaltece sua beleza com frívolias
Belas jóias montam tua mascara

Devora a ti mesmo, ó rubra flor
Na delicadeza de tamanha ira
Teus gracejos são provocantes
Pulsa forte, passional semblante
Tão plenos, anseios delirantes
Ah desejo revigorante, etéreo
Interação vicia, tanto que queima
Em teu seio, envolvente e débil
Inocente beleza é contagiante
Na gentileza conquista, pureza

Devora a ti mesma, flor de alva alma
Emana maturidade inocente
Frágil vaidade, rosto todo corado
Eterna é tua aura de bondade
Encanta até a maior rispidez
Amolece as mais rígidas pedras
Lamento calado, abraço apertado
Calor é intenso, ascende do peito
Queima forte não fere, é sereno
Surpreende, de tão terno que és


Composto em 05/05/2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Lembrança distinta

Me sinto possessivo 
             quando sinto saudade

Me sinto saudoso 
             quando penso na sua presença

Sinto sua falta 
             da paixão adolescente fraternal

Lembro daqueles cachos dourado
             que hoje não mais são cachos

De saias rodadas pra dança
             e seu jeito cigano

Menina abusada que conheci
             mulher forte que se tornou

Há lembrança da praia
             chuva torrencial, noite especial

Umas vezes vinho
             alguma hora cerveja

Seu sorriso bobo
              por vezes malicioso

Felicidade, sim eu tenho
              ao ver onde o tempo te levou

Tristeza, nem tanto
              doí sim é a distancia

Amor? Com certeza
               impossível diferente ser

Saudade? A toda hora
                é sentir, absoluta



Relembrado em 30/05/2013

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Carta de alma


Confesso que a cada dia perco um pouco mais do que fui, que a cada momento morro um pouco para que em mim desperte um novo eu, a cada segundo sinto menos o que costumava sentir e com isso novas sensações tomam o lugar dos sentimentos antigos, me livro de antigas barreiras pra adotar novas para num futuro superar.
   Me perco em pensamentos, refletindo continuamente sobre o que se passa dentro de mim, muda tudo toda hora, muda hoje muda agora. Me perco em eus líricos e personas que surgem com o tempo passado, com o tempo ainda a passar, e no presente encontro reflexos de tudo, o passado em memória, o futuro a se moldar.
   Confissão leviana, me expõem como criança recém retirada do útero, forçada pra fora do aconchego do leito conceptivo, nasço e renasço sem o conforto do ventre, frágil e disposto, pequeno, pois assim forte crescerei.
   Ambíguo é o sentimento do crescimento, expectativa nutrida pelo desenvolvimento. Devo assumir o contento que se cria. Eu penso se sente da mesma forma que eu, se pulsa forte a música criada pela cadencia cardíaca no mesmo ritmo que o meu? Muito é dito sobre rítmica, mas a freqüência é a mesma? Se as cores vibram com mesma intensidade, se brilham com mesmo vigor. As dúvidas são sempre mais frequentes que as respostas.
   Nessa hora descanso meu copo na mesa, o cansaço intelectual me alcança e a turbulência criativa me atinge com vigor, não dá brecha para o sono, uma noite em claro, uma semana talvez, sem sossego me preocupo com quem não posso cuidar, a distancia é minha maior inimiga, fator limitante mais constante.
   Por vezes me iludo, acho que a verdade está estampada, ou pintada com cores vividas à minha frente, engano rude, erro tolo. Não há verdade, não há absoluto, todo "qual" tem o seu "cada", toda visão tem o seu ponto cego. Ao menos enxergo escapatórias, pois também, todo padrão possibilita uma variedade de quebras.
   Aleatório pensamento, permite o estreitamento, de fato a distancia complica qualquer processo, o carnal carece e o impalpável fortalece, negando o concreto o restante floresce, uma vez a distancia foi um fator limitante, mas depois os limites são negados pela mente.

Redigida em 27/05/2012

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Impulso


O desejo é a força motriz do ser
Move montanhas, encurta distancias
Sem se ver junta as mentes
De dissonância em sintonia

O desejo é o ardor tatuado
Na pele marcado a ferro quente
Pintado, é rubro, é vivo, é sangue
Flui com intensidade, com calor

Por vezes simples e complexo
Aos próprios olhos parece normal
Mas mora em seu interior o fator
Distingue-se dos demais

Desejo, ó desejo, voraz que és
Inflama essa úmida chama
Banha com tuas lágrimas em alegria
Canta com seus lamentos em histeria

Ascendido em 24/05/2013

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Vagueio felino


Doce é a desilusão,imagem de liberdade
Se faz na mente, tão restritiva paixão
Ronrona na quietude, em pensamentos grita
De raiva ruge rude e crava tuas garras
Presas que afagam rasga a carne que rubrece
Veios contínuos fluem em violento entrosamento
No desalento, o leito, na solidão, o contento
No caminho, o novo, na vida, o desconhecido
Vagueia em pulos e bambeia sem rumo
Seu olhar não falha, sua meta é clara
Independente de tudo, dança sem música
O semblante não mente, no peito há orgulho
Caça aventuras, desbrava sem medo
De alma guerreira e tamanha gana
Valentia não falta, sua força, uma marca
Determina o caminho, segue cegamente
Indistinta disposição, que motiva seu coração
Amarga desilusão, imagem que liberta
Se desfaz na mente, irrestrita paixão

Cantado em 15/05/2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Nacht


Leve nevoa embaça a luz do fogo
Queima a vela, sua luz fraca
Fumaça escura de acre gosto

Estrada longa, caminho tortuoso
De tijolos amarelos e pedras pontiagudas
Caminho sofrido de grandioso destino

Pirilampos voam pelos escuros campos
Iluminam a noite calada de outono
São eles estrelas intermitentes caídas
   
Eu caminho descalço, pé desnudo na terra
A cada passo uma ferida aberta
Experiência acumulada, cicatrizes da vida


Ando por entre os bosques vívidos
Meu cachimbo queima o fumo, brasa forte
Adoça a boca, minha única companhia

Devaneios em mente, penso em solidão
Desafio crescente, conseguir se manter são
Horas passam despercebidas, dias e meses


Sonhado em 16/04/2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Kra o Corvo


Kra, kra, kra, crocitava o negro corvo
No negrume da noite no campo
O frio castigava, o vento cortava uivante
O chuva forte chovia, o trovão gritava
Ele voava sem medo, sem rumo
Sem ao menos enxergar o caminho

Kra, kra, kra, cantava o alegre corvo
Ciscava em seu voo e balançava os trigais
Sua melodia lúgubre soava alto
No vento dançava o seu ritmo, agitava
Tamborilava a tempestade com seu canto
Tirlintos fracos encorpavam a canção

Kra, kra, kra, pranteava o velho corvo
Sua voz já era fraca, era tanto, era rouca
Idoso se mostrava, pena velha, velha branca
O futuro, já passado, nele jáz o desalento
A vista fraca, embaçada com brandas lagrimas
A voz rouca, rouca e falha, nela só há lamento

Imaginado em 27/03/2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

O saque


Chegou do nada
Violentamente me levou
Carregada as cegas
Perdida
Onde estaria eu que não via
Presa
Sem mordaças
O silencio me calava
Sem torturas
O enclausuro me feria
Sem algemas
O escuro me prendia
Até ouvia a maré
O rebentar das ondas
Onde estava eu
Não sabia
O canto da sereia acordava
O lamento das baleias ninava
Dia e noite, noite e dia
Balançava, pra um lado pro outro
Fui solta, não percebi
Abri meus olhos
Mas não me movi
Devolvida
Mesmo lugar de onde parti
Tudo igual, nem tudo
Meu peito, vazio
Estava inteira
Mas me faltava algo
No peito
O coração saqueado

Navegado em 13/03/2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Olhar de um olho solar

Hoje eu vejo duas estrelas neste céu
Brilham de dia, mesmo a noite
Seu brilho delicado cor de mel
Me miram, me olham, me seguem

Alem da luz possui a escuridão
Nesta iris cheia de milagres astronômicos
Ali jaz um portal pra imensidão
Aureolas solares envolvem um buraco negro

O olhar retribuído, não cega encanta
Em suas cores dançantes, matizes vibrantes
Em seu sutil contato, plena beleza

Ilumina, sem luz, no breu noturno
Na troca, um simples piscar, uma eternidade
Uma cela, sem  se ver, olhos de brilho estrelar

Iluminado em 08/03/2013

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um dia de prosa


Me peguei certo dia pensando sobre poesia
Vi nas linhas da minha mente versos escritos
Odes, trovas, sonetos e tercinas

Vi nesses versos lindas canções de nostalgia
Me remetiam a passados não vividos
Presentes inexistentes e futuros impossíveis

Vivi nesse momento um dia de uma vida não minha
Toquei aquela que a mim não pertencia
Respirei, andei, degustei, vi pelos olhos de outrem

Falei e ouvi, palavras que não pensei
Pensei turbilhões de pensamentos não meus
Sabores a mim estranhos infestavam meu paladar

Amei sem conhecer, conheci sem ao menos ver
Odiei sem consentir, da raiva imaginei, se refez
Do ódio destruí, da esperança recriei

Do lírico o eu surgiu, mas o eu a mim não era
Vi e desfiz, fiz por fazer, fiz que desfiz
Entre os eus me perdi, a mim não mais reconheci

Fora do comum, estranhei desde o amanhecer
Em cada refeição, cada passo, nada de normal
Eu o lirista que sou, por um dia de prosa passei

vivido  em 28/02/2013

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ode noturna




Venta na noite cálida
ar gelado arrepia os pelos
luz da crescente ilumina
fracamente o caminho

Tateio por entre o bosque
meu rumo eu acho pelo toque
sinto o corpo da terra
sua firme consistência

No sossego da noite
ela entoa o seu canto
três vezes soa, ecoa
anuncia sua caçada

Outros seres se espantam
em resposta canta com ela
soa longo, soa brando
anuncia sua chegada

Um fareja a outra voa
se encontram os amantes
enamoram em olhares
dançam juntos tão distantes

Cantam junto seu encontro
três e um são os seus cantos
ressonante, é intenso o pesar
pois o toque quebra o encanto

Amanhece e a valsa acaba
primeiros raios do sol
os separam, união essa tão linda
só ocorre em pleno sonho

sonhado dia 21/02/2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sincronia dissonate

Teu sentido a mim afeta
Tu sentes, eu sinto
Me sento, sem sentido
Entorpecido acordo 
Dormente logo levanto
Extasiado na partilha

Sim, até me persegue
Teus pensamentos
Minha mente, tu pensas
Tua razão
A ti a razão, a mim a tua
E tu a minha


Olhar e ver silhuetas 
Bem definidas 
Com as tuas formas 
Tuas linhas
Com as tuas curvas
Tuas cores

Imaginado em 18/02/2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma questão de sentido


Toco, sem sentir
Calor ou frio
Suavidade ou aspereza

Sinto, sem tocar
O arrepio repentino
O toque inconstante

Escuto, sem ouvir
O gemido cálido da noite
O suspiro no pé do ouvido

Ouço até mesmo sem escutar
O atrito entre a pele
A cadencia do respirar

Vejo, sem enxergar
Na penumbra o teu olhar
A nossa volta o desejo materializado

Sinto, sem provar
Do teu beijo, o gosto
A pele salgada de transpirar

Sinto, sem respirar
O suor a exalar teu calor
No teu perfume o meu fervor

Composto em 13/02/2013

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Soneto encantado



Brilho forte clareia o céu
Dúbia imagem se forma, é estelar
Se desfaz, num sublime véu
Como bruma a se dispersar

Chove chuva, vem do mar
Possessa é a cotovia em seu canto
Densa e úmida é a cortina, é o ar
Tão forte e densa, até desfaz o encanto

Alem das clareiras emerge com vigor
Esforça-se tanto, não descansa
Cospe vapores, se desgasta sem rubor

Muito tempo ele anda, por ai vagueia
Vaga demais, espalha, divide a esperança
Jovial, caminha sob raiar da lua cheia

Escrito em 01/12/2012.